sábado, 31 de julho de 2010

Quase um sopro...


          Todas as noites, ao falar com a minha mãe ao telefone, escuto manifestações de carinho. Ao final de nossas conversas, ouço quando me diz: "tenha uma boa noite, meu filho, eu te amo, descanse e vá dormir em paz".  São muitos anos escutando essas coisas como se fora pela primeira vez! "Meu querido", "meus amores", "eu te amo" são tratamentos que fazem parte da maneira como nossa família interage. Mães, avós, filhos, irmãos, sobrinhos e netos a desfrutar desse modo carinhoso de tratamento, algo que só nos faz bem. Não podemos esquecer de agir assim com todos. Ninguém sabe ao certo quanto tempo ainda nos resta neste mundo para dizer de bom grado o quanto que nos amamos e nos queremos bem. Sejamos rápidos, pois não podemos perder mais tempo. Um dia o imponderável chega e passamos a nos questionar se somos aquela pessoa que gostaríamos de ser, ou se as outras nos veem conforme gostariam que fôssemos.
          O certo é que às vezes pensamos que não somos nada, imaginamos que somos quase um sopro diante dos mistérios da vida. Sentimo-nos impotentes diante do mundo. Reconhecendo nossa fraqueza e pequenez, desconhecemos as bênçãos e os desígnios de Deus. Se a claridade da manhã perde força e a escuridão avança, o inesperado logo surge e só então passamos a compreender que aquilo a que até então dávamos um valor exagerado, de repente perde inteiramente o sentido. Nada, absolutamente nada nos conforta diante do perigo iminente de mais um instante limite. Quando o riso dá vez ao choro, geralmente é sinal de que nos encontramos frágeis e perdidos. Só nessas horas percebemos que as relações humanas deixam muito a desejar. Poderiam ser diferentes: mais amorosas e menos tensas, mais aconchegantes e menos frias, propiciando assim a aproximação maior das pessoas.
          Evitemos desse modo as frases duras, as palavras ásperas nos momentos inoportunos, o silêncio que humilha ou a indiferença diante de uma ação merecedora de elogios. Se não há nada a aplaudir, calemos. É o melhor a fazer. Sejamos dignos de receber o afeto e o carinho de todos. Evitemos deixar para amanhã a vontade que temos de declarar amor às pessoas. Só conseguiremos chegar a um estágio mais nobre na escala humana de valores se abdicarmos da vergonha que temos de amar uns aos outros. Levemos esta mensagem mundo afora. Exaltemos o amor como o único sentimento capaz de acolher, por isso mesmo merecedor por excelência de ser vivenciado e compreendido na rotina de nossa tênue existência. Não custa crer na sua força. Faz-se necessário cultivá-lo e preservá-lo com carinho.


Luiz Maia
http://www.luizmaia.blog.br/
Autor dos livros "Veredas de uma vida", "Sem limites para amar", "Cânticos" e "À flor da pele".
Recife-PE.

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