domingo, 6 de dezembro de 2009

Serenidade da Alma...

Marco Aurélio in 'Pensamentos e Reflexões'


Não examinar o que se passa na alma dos outros dificilmente fará o infortúnio de alguém; mas os que não seguem com atenção os movimentos das suas próprias almas são fatalmente desditosos. (...) Ser semelhante ao promontório contra o qual vêm quebrar as vagas e que permanece firme enquanto, à sua volta, espumeja o furor das ondas. - Que desgraça ter-me acontecido isto! Não, não é assim que se deve falar, mas desta maneira: - Que felicidade, apesar do que me aconteceu, eu não me mortificar, não me deixar abater pelo presente nem me assustar pelo futuro! Na verdade, coisa idêntica poderia suceder a toda a gente, mas bem poucos a suportariam sem se mortificarem. Por que razão considerar este acontecimento infortunado e aquele outro feliz?
Em resumo, chamas de infortúnio para o ser humano aquilo que não é um obstáculo à sua natureza? E consideras um obstáculo à natureza do ser humano aquilo que não vai contra a vontade da sua natureza? Que queres, então? Conheces bem essa vontade; aquilo que te sucede impede-te, por acaso, de ser justo, magnânimo, sóbrio, reflectido, prudente, sincero, modesto, livre, e de possuir as outras virtudes cuja posse assegura à natureza do ser humano a felicidade que lhe é própria? Não te esqueças, doravante, contra tudo aquilo que te possa trazer aflição, de recorrer a este princípio: «Acontecer-me isso não é uma desgraça; suportá-lo corajosamente é uma felicidade.»

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