sábado, 3 de outubro de 2009

Sutil violência

Luiz Maia

Na minha adolescência passei a conhecer as revistas, segundo dizem, destinadas ao público masculino. Nas bancas de jornais, elas vinham embaladas em plásticos e sua venda era proibida a menores de dezoito anos. Não existia a variedade que vemos hoje, nem havia exemplares nacionais. Recordo-me que a pornográfica Penthouse circulava às escondidas, e a Playboy era a mais famosa e praticamente detinha o monopólio. Lembro-me que muitas vezes meu pai ficava a me olhar de lado por eu estar folheando uma delas. E notem que sempre lia às escondidas, pois jamais tive a intenção de afrontá-lo, embora soubesse ser ele um bom leitor desses exemplares.Pois bem, na década de noventa, tais revistas passaram a ser fonte de desejo e de enriquecimento de muitas mulheres. Posar na Playboy, na Sexy ou em qualquer outra, além de trazer muito dinheiro para quem se habilita a mostrar suas "intimidades", confere também fama e prestígio. A TV mostra-se uma perfeita parceira nesse mundo da luxúria, fazendo abertamente, de forma até mesmo acintosa, apologia a essas publicações e, sempre que possível, aplaudindo quem se prestou a tais "serviços". Tudo isso fortalece o desejo de muitas moças inexperientes de se entregarem de corpo e alma a esse que qualifico de rendoso, porém espúrio negócio. Nunca a mulher foi tão aviltada como nos dias de hoje. Nunca se viu tanta moça buscando subir na vida descendo a ladeira que a leva ao sonho de se tornar modelo. Quantas garotas não fazem das atrizes e modelos parâmetros para suas vidas? Quantas em plena puberdade já não sonham em colocar próteses de silicone em seus seios, que mal estão a despontar? Afinal, o culto ao corpo é outro fator preponderante para que se aumente a auto-estima e se esteja apta a desfilar o corpo nu diante da platéia ávida em ver corpos torneados, malhados, siliconizados. Devemos atribuir essas coisas apenas ao mau gosto e à inversão de valores que teimam em prosperar? Pois bem, enquanto isso ocorre as livrarias continuam sendo pouco frequentadas...Por outro lado os meios de comunicação estão longe de se prestarem a servir a população com uma programação decente, baseada em critérios que atendam a um mínimo de dignidade. Não se trata de querer ser moralista ou coisa que o valha, apenas traduzir o sentimento de indignação dos cidadãos que se sentem vítimas dessa insensatez. De tudo isso é fácil extrairmos a lição de que o nosso destino não pode continuar nas mãos de mercantilistas. Nunca é demais refletir sobre qual país queremos para nossos filhos, para nós mesmos, questionando os valores vigentes.
Luiz Maiahttp://www.luizmaia.blog.br/ msn: luiz-maia@hotmail.com skipe: luizmaia1 Autor dos livros "Veredas de uma vida", "Sem limites para amar", "Cânticos" e "À flor da pele". Recife-PE

Nenhum comentário: